terça-feira, 5 de novembro de 2013

ENFIM LIVRES

By Matheus De Cesaro

“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.”

Apóstolo Paulo a Igreja da Galácia 5:13


Ao se discutir o significado da liberdade outorgada a nós por Cristo no Calvário, muitas questões são levantadas causando confusões e polêmicas doutrinárias, históricas e devido a supostas revelações pessoais. Falar em liberdade sem mencionar a Cruz, Cristo e a Lei Judaica, é desconhecer o objetivo divino que repousa sobre a obra expiatória do Calvário. Precisamos antes de tudo, elucidar o que implica e significa “verdadeiramente ser livre” por meio da providência de Deus ao homem, a saber, a Graça. Expressão que utilizou Cristo em seu discurso aos fariseus que o acusavam de estar passando por cima dos que então eram os herdeiros da promessa feita a Abraão. Mas não quero neste texto me deter ao confronto milenar que percorre séculos entre os defensores da Lei, e os defensores da Graça. Quero sim, trazer ao leitor uma explanação simples e existencial do significado, objetivo e responsabilidade da "Liberdade Cristã".

Quando você analisa o que diferencia os períodos da Lei e da Graça, existe um fator predominante que acaba sendo mal interpretado e incompreendido em meio as eras, que é a “liberdade”, que nós cristãos, denominamos de “Liberdade Cristã”. Sabemos que, ao morrer na cruz, Cristo nos abre uma porta nos permitindo ter acesso a presença do Eterno,  e isso é revelado nas escrituras pelo registro de que o véu que mantinha esse acesso negado se rasgou. Hoje por meio do Cristo, temos total confiança para crermos e nos achegarmos ao Pai, na certeza de que o encontraremos sem nenhuma dependência humana ou liturgica. Esta liberdade esta isenta de códigos, sacramentos, dogmas, normas, leis, ou quaisquer outros sistemas que venham aprisionar a humanidade. Precisamos compreender que as liturgias e sistemas religiosos que hoje nos fazem reféns por meio das caricaturas tão engenhosamente esculpidas, não são obrigações a serem cumpridas pelo temor de um suposto castigo ou penitência. 

Toda essa estrutura religiosa que nos poda a liberdade é exatamente um retorno a vida de escravidão espiritual, é retornar a ignorância em relação ao que é Eterno. Hoje as leis que nos levam ao retorno da prisão espiritual não se definem ao retorno a prática e obediência das Leis Judaicas como estava ocorrendo na Galácia e despertou a preocupação de Paulo, mas sim se define aos inúmeros sistemas religiosos que buscam dogmatizar nossa fé por meio de novos conceitos, novas liturgias e penitências que nos são direcionadas pela não observação das mesmas. Não podemos nos submeter a formalização da fé e a multiplicidade de caricaturas formadas pela religião na busca de um relacionamento mais apropriado com Deus. Se submeter a isso, é invalidar a Cruz e a providência divina retornando a dependência do homem para chegar a Deus. Somos livres e independentes para entrarmos no nosso quarto e em secreto desenvolvermos nossa comunhão com Deus, comunhão que é evidenciada quando com liberdade praticamos o amor ensinado pelo Cristo Ofertado, o que independente de sistemas e formalizações esta sobre nós com o objetivo de por meio do Espírito nos fazer melhores no trato e no servir.

Entender que liberdade como uma determinada forma de vida é uma coisa, e a forma como à usamos é outra coisa, é um passo determinante para a interpretação correta desse benefício adquirido pela Oferta da Cruz. A Liberdade Cristã não é o poder que permite ao homem viver deliberadamente da maneira como entende ser o melhor ou supõe ser mais adequado, não envolve uma total ausência de responsabilidades, na verdade, ela é um sentimento interno que na presença de Deus podemos sentir e desenvolver cotidianamente, é uma postura que evidenciamos na prática e exercício do amor fraternal, da comunhão sincera é incondicional. Não estamos mais presos a sacerdócios, dogmas e sacramentos que a religião nos aprisionava, temos acesso livre ao Pai, e regozijando-se em Cristo, nos alegramos pela certeza da remissão de nossos pecados, transgressões e culpas. Não há como não sentir uma intensa alegria quando por meio de Cristo adquirimos a certeza que já não estamos mais debaixo da maldição da lei, amarrados e presos ao domínio do pecado, mas estamos debaixo da Graça do Cristo Ofertado, vivendo esta tão linda liberdade, tendo então uma Nova Aliança não externa pela lei humana e sim interna e racional pela presença do Espírito.

“Porque esta é a aliança que depois daqueles dias Farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei as minhas leis no seu entendimento, E em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo.” 

Carta escrita aos Hebreus 8:10

É certo que, dia após dia, surgem situações em que esta liberdade vem sido ameaçada pela tão grande e incontável criação de dogmas e sacramentos que o homem por não compreender a Graça insiste em defender. Uma corrida desenfreada em busca do retorno a dependência humana e suas leis, o que insisto em enfatizar, que estes que lutam nesta intenção ainda não compreenderam o que significa esta liberdade. Não podemos viver por regras, sejam quais forem. Vivemos pela vontade revelada de Deus manifesta em Cristo e não por ditames formais que ficam sujeitos a alteração, como se dependessem de atualizações para seu aperfeiçoamento. A Nova Aliança, que por sua vez é superior, perfeita e eterna, mediante a obra da cruz, operou este milagre que nos trouxe a liberdade, e o homem pela sua arrogância em buscar se manter no centro e no controle, tenta de todas as formas possíveis anular esta verdade, muitas vezes se prendendo a fábulas, conceitos e conjecturas inconcebíveis se contextualizadas com a humanidade e a sociedade atual. Precisamos ter cuidado com esta produção acelerada de novas ordenanças, pois as mesmas não produzem vida, e sim, emocionalmente anulam o exercício da razão, levando o homem a uma cauterização mental sem tamanho.

“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies?” 

Apóstolo Paulo a Igreja em Cololosso 2: 20 e 21

E antes que alguns defensores da antiga aliança se levantem afirmando que estamos ignorando o que Deus providenciou ao seu povo como Lei, é justo esclarecer que a Lei tinha um objetivo, e nisso foi eficaz, abrindo caminho para a CruzA vida cristã fundamenta-se nos princípios da Nova Aliança por meio de Cristo. É algo muito profundo, pois a cruz não faz uma mudança superficial no homem, não faz melhoras, mas mata-o e o ressuscita em novidade de vida. O homem não passará a viver por regras, mas pela vontade revelada. Não há espaço para alguém imaginar que a Graça Redentora é inferior às exigências da lei, muito pelo contrário, Cristo em seu exemplo nos deixa claro que a cruz produz algo impossível a qualquer outro meio. 

“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio.”

Apóstolo Paulo a Igreja da Galácia 3:24 e 25

Os princípios neo-testamentários são firmes e abrangentes. Embora tenhamos ensinos específicos sobre o comportamento dos cristãos em relação às coisas do mundo, há um ensino claro dos princípios que devem nos guiar, os quais dispensam as regras e ordenanças humanas, princípios que dispensam a arrogância de dizer, “tem que ser assim”, “o correto é desse jeito”, “isto pode”, “isto não pode”, liberdade é com responsabilidade se aproximar conscientemente e racionalmente de Deus. 
“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus”. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” 

Apóstolo Paulo a Igreja de Colosso 3:1-3

Portanto, vamos com responsabilidade gozar de nossa liberdade em beneficio do próximo, levando assim a carga uns dos outros, sendo assim o amor arbitro em nossos corações, que a obra da Cruz esteja viva em nossas vidas e que ao representar essa liberdade adquirida, não sejamos omissos no servir, mas sim ativos e praticantes , que a luz deste Evangelho que nos torna livres, nos conduza a sincera comunhão com a humanidade, pois Cristo morreu para que todos sejam livres, seja judeu ou gentio, homem ou mulher, nada disso mais tem relevância, pois somos todos Um em Cristo, restituídos por seu sangue a Glória do pai, para que enfim, vivêssemos uma verdadeira e real liberdade, sem prisões, sem amarras, sem leis, mas gerados, movidos e impactados pelo seu imenso amor.

"Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela."

George Bernard Shaw

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