por Davi Alves
“Diga-nos, Nícias,
que aviso o oráculo de Pítias lhe deu? Por que esta praga caiu sobre nós? E por
que os inúmeros sacrifícios realizados de nada adiantaram?”
O impassível Nícias olhou de frente o presidente do
conselho e afirmou: “A
sacerdotisa declara que nossa cidade se encontra sob uma terrível maldição. Um
certo deus a colocou sobre nós por causa do medonho crime de traição do rei Megacles contra os seguidores de Cylon.”
“É verdade! Lembro-me
agora”, disse sombriamente outro membro do conselho. “Megacles
obteve a rendição dos seguidores de Cylon com uma promessa de anistia, depois
violou prontamente sua própria palavra e os matou! Mas qual é o deus que ainda
nos condena por esse crime? Já oferecemos sacrifícios de expiação a todos os
deuses!”
“Não é bem assim”,
replicou Nícias. “A sacerdotisa
afirma que resta ainda um deus a ser apaziguado.”
“Quem poderia ser?”
perguntaram os anciãos, olhando incrédulos para Nícias.
Nícias disse: “... precisamos enviar um navio
imediatamente a Cnossos, na Ilha
de Creta, e trazer de lá para Atenas um homem chamado Epimênides. A sacerdotisa
assegurou-me que ele saberá como apaziguar esse deus ofendido,
livrando assim a nossa cidade.”
“Não existe alguém
suficientemente sábio aqui em Atenas?” esbravejou um ancião indignado. “Temos
de apelar para um estrangeiro?”
“Se conhece algum grande
sábio em Atenas, pode chamá-lo”, disse Nícias.
“Caso contrário, cumpramos simplesmente as
ordens do oráculo.”
Cada ancião refletiu
sobre as palavras de Nícias. “Vá
em nosso nome, meu amigo”, disse o presidente do conselho. “Traga esse
Epimênides! Se ele atender ao seu pedido e livrar nossa cidade, nós o
recompensaremos.”
Os demais membros do
conselho concordaram. O calmo Nícias,
de voz suave, levantou-se, inclinando-se diante da assembléia, deixando a
câmara. Ao descer a Colina de Marte, ele se encaminhou para o porto de Pireu,
que ficava a 13 km de distância, na Baía de Falerom.
Um navio achava-se ali ancorado. Epimênides desceu agilmente para a terra, em
Pireu, seguido de Nícias. Os dois
homens encaminharam-se de imediato para Atenas, recobrando aos poucos a força
das pernas depois da longa viagem por mar, desde Creta. Ao entrarem na já
mundialmente famosa “cidade dos filósofos”, os sinais da praga eram vistos por
toda a parte. Mas Epimênides observou outra coisa:
“Nunca vi tantos
deuses!” exclamou o cretense para o seu guia, piscando surpreso.
Outros deuses,
centenas deles, adornavam um terreno íngreme e rochoso, chamado acrópole.
Tempos depois, nesse mesmo lugar, os atenienses construíram o Partenon.
“Quantos são os deuses de
Atenas?” inquiriu Epimênides.
“Várias centenas pelo
menos!” replicou Nícias.
“Várias centenas!”, foi a
exclamação espantada de Epimênides.
“Aqui é mais fácil
encontrar deuses do que homens!”
“Tem razão!”, riu o
conselheiro Nícias. “Não sei
quantos provérbios já foram feitos sobre ‘Atenas, a cidade saturada de deuses’.
Com a mesma facilidade que se tira uma pedra da pedreira, outro deus é trazido
para a cidade!”
Nícias parou repentinamente, refletindo sobre
o que acabara de dizer. “Todavia”, começou pensativo, “o oráculo de Pítias
declara que os atenienses precisam apaziguar ainda um outro deus.
E você, Epimênides, deve promover a intercessão necessária. Ao que
parece, apesar do que eu disse, nós, atenienses, ainda precisamos de mais um
deus!” Jogando a cabeça para trás e rindo, Nícias exclamou: “Realmente, Epimênides, não
consigo adivinhar quem poderia ser esse outro deus. Os atenienses são os maiores
colecionadores de deuses no mundo! Já saqueamos as teologias de muitos povos
das vizinhanças, apoderando-nos de toda divindade que possamos transportar para
a nossa cidade, por terra ou por mar.”
“Talvez seja esse o seu
problema”, disse Epimênides com um ar misterioso.
Nícias piscou os olhos para o amigo, sem
compreender, como quem deseja um esclarecimento desse último comentário. Mas
alguma coisa na atitude de Epimênides o silenciou. Os anciãos de Atenas já
haviam sido avisados e o conselho os esperava.
"Epimênides, agradecemos
sua ... " começou o presidente da assembléia.
"Sábios anciãos de
Atenas, não há necessidade de agradecimentos." Epimênides interrompeu.
"Amanhã, ao nascer do sol, tragam um rebanho de ovelhas, um grupo de
pedreiros e uma grande quantidade de pedras e argamassa até a ladeira coberta
de relva, ao pé desta rocha sagrada. As ovelhas devem ser todas sadias e de
cores diferentes - algumas brancas, outras pretas. Vocês não devem deixá-las
comer depois do descanso noturno. É preciso que sejam
ovelhas famintas! Vou agora descansar da viagem. Acordem-me ao
amanhecer."
Os membros do conselho trocaram olhares curiosos, enquanto
Epimênides cruzava o pórtico em direção a um quarto sossegado, enrolando-se em
seu manto como num cobertor e sentando-se para meditar. O presidente voltou-se
para um dos membros jovens do conselho'. "Veja que tudo seja feito como
ele ordenou", disse ele.
"As ovelhas estão
aqui", falou o membro jovem, humildemente.
Epimênides, despenteado e
ainda meio dormindo, saiu de seu descanso e seguiu o mensageiro até a ladeira
que ficava na base da Colina de Marte. Dois rebanhos - um de ovelhas pretas e
brancas e outro de conselheiros, pastores e pedreiros -
achavam-se à espera, debaixo do sol que nascia. Centenas de cidadãos,
desfigurados por outra noite de vigília cuidando dos doentes atingidos pela
praga e chorando pelos mortos, galgaram os pequenos outeiros e ficaram
observando ansiosos. "Sábios anciãos", começou Epimênides,
"vocês já se esforçaram muito ofertando sacrifícios aos seus numerosos
deuses; entretanto, tudo se mostrou inútil. Vou agora oferecer sacrifícios
baseado em três suposições bem diferentes das suas. Minha primeira suposição
...”
Todos os
olhos estavam fixos no cretense de elevada estatura; todos
os ouvidos atentos para captar suas próximas palavras. " ... é que
existe ainda outro deus interessado na questão desta praga - um deus cujo nome
não conhecemos e que não está, portanto, sendo representado por qualquer ídolo
em sua cidade. Segundo, vou supor também que este deus é bastante
poderoso - e suficientemente bondoso para fazer alguma coisa a respeito da
praga, se apenas pedirmos a sua ajuda."
"Invocar um
deus cujo nome é desconhecido?" exclamou um dos anciãos.
"Isso é possível?"
"A terceira
suposição é a minha resposta à sua pergunta", replicou Epimênides.
"Essa hipótese é muito simples. Qualquer deus suficientemente grande e
bondoso para fazer algo a respeito da praga é também poderoso emisericordioso para nos favorecer em nossa
ignorância - se reconhecermos a
mesma e o invocarmos!" Murmúrios de aprovação misturaram-se com
o balido das ovelhas famintas. Os anciãos de Atenas jamais tinham ouvido
essa linha de raciocínio antes. Mas, por que, perguntavam eles, as
ovelhas deviam ser de cores diferentes? "Agora'" gritou Epimênides,
"preparem-se para soltar as ovelhas na ladeira sagrada! Uma vez
soltas, deixem que cada animal paste onde quiser, mas façam com que seja
seguido por um homem que o observe cuidadosamente."
A
seguir, levantando os olhos para o céu, Epimênides orou
com voz profunda e cheia de confiança: "ó, tu, deus
desconhecido (Criador do céu e da terra)! Contempla a praga que aflige esta
cidade! E se de fato tens compaixão para perdoar-nos e
ajudar-nos, observa este rebanho de ovelhas! Revela tua disposição
para responder, eu peço, fazendo com que qualquer ovelha que te agrade
deite na relva em vez de pastar. Escolha as brancas se elas
te agradarem; as pretas se te causarem prazer. As que escolheres serão
sacrificadas a ti - reconhecendo nossa lamentável ignorância do teu nome!"
Epimênides sentou-se na
grama, inclinou a cabeça e fez sinal aos pastores que guardavam o
rebanho. Estes vagarosamente se afastaram. Com rapidez e voracidade,
as ovelhas se espalharam pela colina, começando a pastar.
"É inútil",
murmurou baixinho um conselheiro. "Mal amanheceu e raras vezes
vi um rebanho tão faminto. Nenhum animal vai deitar-se antes de
encher o estômago e quem acreditará então que foi um deus que
o levou a isso?"
Epimênides deve ter
escolhido esta hora do dia deliberadamente!" respondeu Nícias. "Só assim poderemos saber
que a ovelha que se deitar o fará em obediência à vontade desse deus
desconhecido, e não por sua própria inclinação!"
Mal Nícias terminara de falar quando um pastor
gritou: "Olhem!"
Todos os olhos
se voltaram para ver um carneiro dobrar os joelhos e deitar-se na
relva. "Eis aqui outro!" bradou um conselheiro surpreso, fora de si
por causa do espanto. Em poucos minutos algumas das ovelhas se achavam
acomodadas sobre a relva suculenta demais para que qualquer herbívoro faminto
pudesse resistir - em circunstâncias normais!
"Se apenas uma deitasse, teríamos dito que estava doente!" exclamou o
presidente do conselho. "Mas isto! Isto só pode ser
uma resposta'" Com os olhos cheios
de reverência, ele se voltou, dizendo a Epimênides: "O
que faremos agora?"
"Separem as ovelhas
que estão descansando", replicou o cretense, levantando a cabeça pela
primeira vez desde que invocara o deus desconhecido, "e marquem o lugar
onde cada uma se acha. Façam depois com que os pedreiros levantem altares - um
altar em cada ponto onde as ovelhas descansaram!"
Pedreiros entusiastas
começaram a fazer argamassa e no final da tarde ela já havia endurecido o
suficiente. Todos os altares se achavam preparados para uso.
"Qual o nome
do deus que gravaremos sobre esses altares?" perguntou um dos
conselheiros do grupo mais jovem, excessivamente ansioso. Todos se voltaram
para ouvir a resposta do cretense.
"Nome?" repetiu Epimênides, como
se refletindo. "A divindade, cuja ajuda buscamos, agradou-se em
responder à nossa admissão de ignorância. Se agora
pretendermos mostrar conhecimento, gravando um nome quando na verdade não temos
a menor idéia a respeito dele, temo que vamos apenas ofendê-la!". "Não
podemos correr esse risco", concordou o presidente do conselho. "Mas
com certeza devehaver um
meio apropriado de - de dedicar cada altar antes de usá-lo."
"Tem razão, sábio
conselheiro", declarou Epimênides com um sorriso raro. "Existe um
meio.Inscrevam simplesmente as
palavras agnosto theo - a
um deus desconhecido - no lado de cada altar. Nada
mais é necessário."
Os
atenienses gravaram as palavras recomendadas pelo conselheiro
cretense. A seguir, sacrificaram cada ovelha "dedicada" sobre o altar
marcando o ponto em que a mesma havia deitado. Na madrugada do dia
seguinte os dedos mortais da praga sobre a cidade já se haviam afrouxado. No
decorrer de uma semana, os doentes sararam. Atenas encheu-se de
louvor ao "Deus desconhecido" de Epimênides e também a este, por ter
prestado socorro tão surpreendente de
um modo verdadeiramente engenhoso. Cidadãos agradecidos colocaram festões de
flores ao redor do grupo despretensioso de altares na encosta da Colina de
Marte. Mais tarde, eles esculpiram uma estátua de Epimênides
sentado é a colocaram diante de um de seus templos. Com o correr do
tempo, porém, o povo de Atenas começou a esquecer-se da misericórdia que o "deus desconhecido" de
Epimênides lhes concedera. Seus altares na colina foram negligenciados e eles voltaram a adorar centenas de
deuses que se mostraram incapazes de remover a maldição da cidade.
Vândalos
demoliram parte dos altares e removeram pedras de outros. O mato e o musgo
começaram a crescer sobre as ruínas até que ...Certo dia, dois anciãos que se
lembravam da importância dos altares pararam diante deles a caminho do
conselho. Apoiados em seus bordões eles contemplaram pensativos as relíquias
ocultas por trepadeiras. Um dos anciãos retirou um pouco do musgo e leu a
antiga inscrição encoberta por ele: " 'Agnosto theo'. Demas - você se
lembra?"
"Como poderia
esquecer?" respondeu Demas. "Eu era o membro jovem do conselho que
ficou acordado a noite inteira para certificar-me de que o rebanho, as pedras,
a argamassa e os pedreiros estariam prontos ao nascer do sol!"
"E eu",
replicou o outro ancião, "era aquele outro membro jovem e ansioso que
sugeriu que fosse gravado em cada altar o nome de algum deus! Que tolice".
Ele fez uma pausa,
mergulhado em seus pensamentos, acrescentando a seguir: "Demas, você
talvez me considere sacrílego, mas não posso deixar de sentir que se o
"Deus desconhecido" de Epimênides se revelasse abertamente a nós,
logo deixaríamos de lado todos os outros!" O ancião barbudo balançou o
bordão com certo desprezo na direção dos ídolos surdos e mudos que, em fileira
após fileira, cobriam a crista da acrópole, em número maior do que nunca antes.
"Se Ele jamais vier a revelar-se", disse Demas pensativamente,
"como nosso povo saberá que não é um estranho, mas um Deus que já
participou dos problemas de nossa cidade?"
"Acho que só existe
um meio", replicou o primeiro ancião. "Devemos preservar pelo menos
um desses altares como evidência para a posteridade. E a história de Epimênides
deve, de alguma forma, ser mantida viva entre as nossas tradições."
Os dois anciãos
apertaram-se as mãos para fechar o acordo e, de braços dados, seguiram caminho
abaixo, batendo alegremente os bordões contra as pedras da Colina de Marte.
(Historiado Livro: Fator Melquisedeque)
Deus fez durante toda a
historia até o dia de hoje brotar acontecimentos que levaríamos anos
e anos para saber. Nosso Deus não é um Deus que precisa de religião, Ele
entra em qualquer meio cultural sem ajuda de ninguém apenas para
salvar, libertar e amar. Esse Deus desconhecido é o nosso Deus, é o Deus que
nos salva, Abraão deu o dízimo a Melquisedeque (Gênesis 4:18), assim obedecendo ao
rei que também amava o Deus desconhecido, o Deus sem nome, o Deus criador,
o Altíssimo, o Deus de amor.
Muitas são as culturas
espalhadas pelo mundo, que caracterizam seus lugares, nosso dever como cristão
não é levar uma doutrina ou dogmas para as culturas que ainda não conhece ao
Evangelho, mas deixar o Evangelho entrar profundamente nos corações humanos de
forma simples e natural. Assim como foi no tempo de Epimênides, devemos
também acreditar que Deus utilizar de diversos meios para se comunicar com a
humanidade, comunicar com a nossa alma, nos aproximar dEle e
para que isso seja verdade devemos ter a consciência e viver aquilo que Jesus
veio nos trazer, as boas novas, algo que esquecemos diariamente, que
devemos Deixar Deus ser Deus em nossas vidas, que Deus é e não Deus ser, que
Deus atinge, Deus liberta, Deus chega e Deus ama. Ele não precisa de religião e
o homem precisa da luz do mundo Jesus Cristo.
Quando tivermos
preparado para aceitar que Deus é Deus, então não haverá mais religiões, não
haverá desigualdade, formações de ídolos e viveremos
aquilo que os homens deveriam compreender: