By Davi Alves
É
fato que vivemos conflitos internos ao longo da vida em todos os aspectos,
principalmente na caminhada espiritual. O homem tem sua tendência natural de vangloria-se
de suas ações, e dessa forma nos forçamos a cumprir regras, exigências, e por
aí vai. Assim, enganamos a nós mesmos, dentro da nossa mente. E, é em nossa
mente que encontramos o impostor.
É
nesse exato momento que as pessoas desenvolvem um dispositivo de escape pela
ação interior que às levam a viver emoções através dos seus intelectos de forma
de inadequação perante Deus. É quando criamos máscaras para nos esconder por
detrás delas, das pessoas e sobre tudo de Deus.
Sentimos
sensações como a culpa, o desgosto, a ansiedade ou o tédio. Quem de nós nunca
desejou algo contra outra pessoa? Quem nunca se pegou imaginando ser alguém que
não é? Ou passou uma imagem para outra pessoa diferente da sua? Desenhamos
mentalmente a cada momento imagens nossas com um determinado grau de grandeza e
superioridade. Embelezamo-nos de forma mesquinha cada vez que escutamos um
elogio. O nosso “EU” é
o impostor. É aquele que nos coloca dentro de um escalão especial, é ele que
nos faz sentirmos melhor que as outras pessoas e manifesta em nós o desejo de
grandeza e os sentimentos mesquinhos de egoísmo, como a cobiça e tantos outros sentimentos
negativos que nos separam da graça de Deus.
Dentro
do quadro religioso, em especial ¨os
evangélicos¨. Foi se criando durante os últimos anos, a
louca mania das “performances”. Devido às consequências da visão protestante capitalista
e a vaidade gospel desordenada, nasce dentro das visões protestantes o culto à “performance”. Neste
culto, os pregadores são os grandes artilheiros, a peça essencial dessa jogada
de marketing, que enriquecidos pelo apoio dos cristãos protestantes impulsionan
e posicionam suas religiões como um grande empreendimento diante da sociedade,
enfim, um negócio. O nosso“EU”
vai ganhando pouco a pouco à consciência cristã, e o que se tem no fim da conta
não o satisfaz. É a crença ao mérito inerente do desempenho, que posiciona a
mente e o modo de pensar, nos levando querer fazer de nós, os maiores dentre
todos, o líder de louvor mais cobiçado ou o obreiro mais admirável. É assim que percebemos a diferença entre o
evangelho e o nosso eu. O evangelho nos ensina a servir, o eu nos ensina a
querer ser servido. A “performance” em
nossa vida é a honraria ao nosso eu, o pífio prêmio pela ausência de Cristo em
nossas vidas.
É o
eu que manipula nosso modo de pensar a respeito da vida e
do evangelho. Brennan
Manning no seu livro, ¨O
Impostor que Vive em Mim¨, destacou o seguinte
pensamento:
“Sem
querer, havia projetado em Deus os sentimentos que eu nutria a meu
respeito. Sentia-me seguro com ele apenas quando me via como uma pessoa nobre,
generosa e amável, sem cicatrizes, medos ou lágrimas. Perfeito!(…)”
É o
nosso eu, o impostor, que nos distancia da graça para aceitar os holocaustos à
vaidade. Brennan
ainda destaca de forma direta e com clareza a capacidade do nosso falso eu
dizendo,
“O falso “eu” se envolve em
experiências externas para dispor de uma fonte pessoal de significado. A busca
por dinheiro, poder, glamour, proezas sexuais, reconhecimento e
status potencializa a autovalorização e cria a ilusão de sucesso. O impostor é
aquilo que ele faz . (…)”
É
dessa forma que o nosso falso eu alimenta nosso coração de “performance”,
a respeito disso Paulo
Bravo declara:
¨O culto da performance é tão
universal que requer cuidadosa e contínua desconstrução. Todos que temos acesso
à internet e sabemos ler e escrever estamos por certo até o pescoço mergulhados
nele¨
É o desejo pela aceitação do mundo que nos
distancia da graça. O culto a nós mesmos é a comprovação de que estamos vivendo
outro caminho, contrário ao que Jesus viveu.
Um
dos desafios dos cristãos, e em maior intensidade dos cristãos protestantes, é ter a consciência de que todos nós somos
iguais, e que todos teremos o mesmo julgamento perante Deus. Que nenhum líder
evangélico é mais especial do o outro, ou qualquer pessoas que não siga seus
passos e crenças, como por exemplo um ateu. É preciso entender que o evangelho
não é um negocio para saciar o nosso eu, e que a única forma de viver longe do
falso eu, é aceitando a graça de Cristo.
É
na graça de Cristo que temos o desejo pela sinceridade, é pela graça que somos
glorificados. É aceitando o projeto de amor de Deus que não precisamos de
nenhum sacrifício.
Eu
há pouco tempo matei meu eu, da forma mais simples e impactante. Deixei de ser
eu para estar em Cristo, é nEle que deposito meu agir e meu pensar, é nEle que
estou sendo conduzindo unicamente ao evangelho. Mas o eu, ainda respira, ainda
vive, ainda está dentro de mim, às vezes ele me faz pensar coisas ruins, até
mesmo agir em determinados eventos de forma diferente daquilo que de fato devo
seguir, ele ainda está aqui perto de mim, mas não é ele quem dita as regras,
não é ele quem fala mais alto. Ele é apenas um elemento que vê e percebe minhas
ações, não se controlando e tentando fazer o que ele quer sem sucesso. Quando
aceitamos que existe o “EU”
dentro de nós, é que nos libertamos dele. Ele está na minha mente, mas contra a
verdade aceita no meu coração não tem poder nenhum.
Uma
pergunta:
Quem
está de fato disposto a matar o seu eu? Quem de nós aceita essa reflexão de
modo profundo e sem preconceito ou achismo e entende o andarilho que vive
dentro de nós?
De
fato nos dobramos ao nosso eu e o cultuamos; de fato ajoelhamo-nos diante do
altar das performances dia a dia e entoamos sentidos louvores e prestamos
exigentíssima atenção ao nosso eu. Paulo
Brabo afirma:
¨Sem contar breves intervalos de
lucidez, eu e você de fato acreditamos nisso – porque vivemos sob a sombra
onipresente do deus da performance.¨
O
impostor começa a se transformar em uma espécie de síndrome de “smegol”,
onde a mudança de personalidade e as transformações se alteram tão facilmente,
que deixamos ele crescer, sem perceber e discernir o que está acontecendo. Brennan Manning descreve as múltiplas
ações de maneira direta e compreensiva:
¨O ódio pelo impostor é na
verdade o ódio de si mesmo. O impostor e eu constituímos uma só pessoa. O
desprezo pelo falso “eu” dá vazão à hostilidade, o que se manifesta
como irritabilidade geral — irritação pelas mesmas faltas nos outros que
odiamos em nós mesmos. O ódio próprio sempre redunda em alguma forma de comportamento
autodestrutivo. Aceitar a realidade da nossa pecaminosidade significa
aceitar o nosso “eu" autêntico. Judas não conseguiu encarar sua
sombra; Pedro conseguiu. Este fez as pazes com o impostor interior; aquele que
se levantou contra ele. Quando aceitamos a verdade do que realmente somos e a
rendemos a Jesus Cristo, somos envoltos em paz, quer nos sintamos em paz, quer
não. Quero dizer com isso que a paz que ultrapassa o entendimento não é uma
sensação subjetiva de paz; se estamos em Cristo, estamos em paz, mesmo quando
não sentimos nenhuma paz.¨
Cristo
é a cura desse conflito interior, a libertação dessa corrente mortal da
hipocrisia em nossa alma. Cristo venceu a morte e o pecado, afim de que nada,
absolutamente nada, possa nos separar do amor divino.
3 comentários:
Esse texto retrata a realidade de todos eu creio, porque não tem uma pessoa que já não tenha deixado o seu "eu" ser exaltado no lugar de Cristo. E não tem como realmente deixar Cristo reinar sem reconhecer o seu "eu" e o submeter a vontade de Deus.É preciso reconhecer-se como uma pessoa que falha e confiar em Jesus que nos ama mesmo quando falhamos e por isso não precisamos criar "mascaras" para agradar homens. VOCE É UM OTIMO ESCRITOR DAVI QUE DEUS TE ABENÇOE NESSE TALENTO.
Nobre Amigo Davi,
Seu texto aponta para uma realidade que já esta visível no meio evangélico. Infelizmente esta realidade tomou dimensões gigantescas, e já ocupa lugares de destaque em meio aqueles que deveria agir de forma contraria a esse tal "culto a performance". Mas graças a Deus que ainda existam pessoas que buscam morrer para Cristo viver, que se identificam com o genuíno evangelho. É a velha sentença que diz, "Cristo buscara uma Igreja, que esta no meio da igreja".
Abraço.
É um texto que retrata uma realidade que pode ser mudada a qualquer momento. Estou lendo um livro muito interessante que mostra como Deus tem trabalhado durante toda a existência e provavelmente será tema da minha próxima matéria no blog. Fiquem atentos.
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